Museu da Ci�ncia - Universidade de Coimbra

Vombate: um curioso “matemático” da natureza

Entre as muitas curiosidades do mundo natural, poucas despertam tanto fascínio quanto o vombate (Vombatus ursinus, Shaw, 1800).

Este mamífero marsupial, nativo da Austrália, é um notável exemplo de adaptação e engenho biológico. De corpo robusto, medindo cerca de um metro de comprimento e pesando entre 20 e 35 quilogramas, hábitos noturnos e comportamento reservado, o vombate leva uma vida discreta, mas repleta de singularidades.

Herbívoros por excelência, os vombates alimentam-se de gramíneas, ervas, raízes e cascas de árvores. Dotados de garras poderosas e de um corpo compacto, escavam extensos sistemas de túneis e galerias subterrâneos que podem atingir dezenas de metros de comprimento. Uma curiosa adaptação evolutiva facilita-lhes essa tarefa: ao contrário de outros marsupiais, a bolsa das fêmeas abre-se para trás, evitando que a terra se acumule sobre a cria enquanto escavam.

Apesar da aparência tranquila e dos movimentos lentos, os vombates são animais territoriais e surpreendentemente ágeis, podendo atingir os 40 km/h em curtas corridas quando ameaçados. Nesses momentos, recorrem a uma defesa inusitada: usam a parte posterior endurecida do corpo para bloquear a entrada das tocas, protegendo-se eficazmente de predadores.

Mas é no domínio da forma e da precisão que o vombate verdadeiramente se distingue.
O vombate destaca-se sobretudo por uma característica singular no reino animal: é o único ser vivo conhecido que produz fezes em forma de cubo.

Em média, um vombate produz entre 80 e 100 pequenos cubos por dia. Durante décadas, esta peculiaridade intrigou cientistas e naturalistas, até que, em 2018, uma equipa do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), liderada por Patricia Yang, apresentou uma explicação convincente.

O estudo demonstrou que a forma cúbica não resulta da compressão muscular na fase final da digestão, como se supunha, mas sim da elasticidade variável das paredes intestinais. Certas secções do intestino expandem-se mais do que outras, criando zonas alternadas de maior e menor compressão — um processo natural que molda os excrementos em blocos quase perfeitos.

Segundo o investigador australiano Scott Swinbourne, especialista em vombates, este formato também se relaciona com o ambiente árido em que a maioria vive. O metabolismo extremamente lento — capaz de levar até 14 dias a completar a digestão — e a grande eficiência na absorção de água resultam em fezes secas e rígidas, que mantêm a forma mesmo fora do corpo.

No Museu da Ciência da Universidade de Coimbra encontram-se atualmente dois exemplares desta espécie. O primeiro é um vombate preservado por taxidermia, termo que significa “dar forma à pele”, adquirido em 1872 à reputada Maison Verreaux, em Paris, uma das mais importantes casas de história natural do século XIX (n.º de inventário ZOO.0002152). O segundo é um esqueleto completo (n.º ANT.00200), proveniente de uma coleção utilizada no ensino de zoologia. Este último pode ser observado na exposição “Gabinete de Curiosidades, uma interpretação”, patente no museu.


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