A descoberta do rádio e o risco radiológico
palestra por Ana Rita Melo (Programa Doutoral em História das Ciências e Educação Científica, Universidade de Coimbra e Universidade de Aveiro)
A descoberta do rádio aconteceu no final do séc. XIX, numa época de grande evolução da Física, nomeadamente a descoberta dos raios X em 1895 por Röentgen e a descoberta dos chamados raios urânicos por Henry Becquerel em 1896. Marie Curie escolheu aprofundar o trabalho de Becquerel para a realização da sua tese de doutoramento em Física. Estudou o que viria a denominar de radioatividade dos elementos químicos, descobrindo em 1898, a partir da pecheblenda, dois elementos desconhecidos até então e milhares de vezes mais radioativos que o urânio: o polónio e o rádio.
As aplicações do rádio para a cura do cancro foram iniciadas logo depois. O elemento químico que emanava um brilho misterioso era visto como a cura para todos os males e o elixir da juventude, tendo também sido usado, entre outros, em cosméticos e supositórios. Apesar de Curie cedo ter percebido os benefícios e os perigos do rádio, houve um fascínio por parte do público e da indústria que menosprezou os perigos identificados. A perceção do risco radiológico em torno desta substância surgiu de forma generalizada apenas na sequência de casos catastróficos, como as “mulheres do rádio”, trabalhadoras numa fábrica que pintavam os ponteiros dos relógios com tinta que continha rádio, levando à morte de dezenas delas.
Esta palestra abordará, por um lado, os momentos da descoberta do rádio, a divulgação científica da descoberta e as aplicações que surgiram e, por outro, a questão da perceção do risco radiológico e os fatores que subjazem à perceção do risco.