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ASTROLÁBIO NÁUTICO: COMO UM “GPS” À ÉPOCA DOS DESCOBRIMENTOS?
Uma réplica de um astrolábio náutico em madeira, com 51 cm de diâmetro, pode observar-se no Laboratório Chimico do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (sala do anfiteatro).
Este astrolábio didático foi mandado executar pelo Doutor Alfredo Bensaúde, no início do século XX (cerca de 1913), ao tempo diretor do Instituto Superior Técnico.
Está integrado na exposição “Visto de Coimbra”, que simboliza a ciência e o projeto pedagógico da Companhia de Jesus que ligou a Europa à África, ao Brasil e à Ásia através dos missionários jesuítas, e que em Coimbra fundou a primeira casa da Companhia de Jesus (complexo Jesuítico de Coimbra: Colégio de Jesus e Colégio das Artes). Adquirindo projeção internacional e difundindo manuais, o Cursus Conimbricensis, um processo de globalização, inovador à época, teve impacto no Ensino na Europa e no mundo. Com formação intelectual e espiritual cuidada, daqui partiam os jesuítas para missões de evangelização nos territórios com presença portuguesa, com uma certificação - o “Visto de Coimbra” - conforme é retratado na exposição.
O astrolábio náutico derivou do astrolábio plano e tem apenas as peças destinadas a medir a altura dos astros. Permite calcular a altura de uma estrela, a distância zenital do sol, a latitude do lugar com o auxílio de tabelas de declinação e “pesar” o sol, ou seja, determinar o meio dia solar. Com a altura do Sol e uma tabela de declinações calcula-se a latitude.
Aperfeiçoado pelos marinheiros portugueses durante a época dos descobrimentos, era constituído por um limbo graduado e uma alidade. O limbo era composto por um círculo dividido em quatro quadrantes graduados de 0° a 90° e tinha uma argola de suspensão. O zero era colocado na extremidade do diâmetro vertical para a leitura dar, de imediato, a distância do Sol.
Era possível construir astrolábios de grandes dimensões devido à sua simplicidade, o que permitia uma maior precisão nas divisões do limbo, inferiores ao grau. Os astrolábios usados nas grandes viagens marítimas portuguesas eram construídos em madeira e mediam três pés, cerca de 97,5 cm de diâmetro.
Seriam os astrolábios, à época, equivalentes ao atual sistema de posicionamento global – o GPS? Este é também um sistema de navegação que permite a localização de um ponto na superfície terrestre - a coordenada geográfica - e, ainda, informações como altitude e horário. O GPS foi criado nos Estados Unidos no século passado e funciona por sinalização através de 24 satélites distribuídos na órbita terrestre.
Inicialmente orientado para uso militar, o GPS tornou-se a principal ferramenta de localização espacial civil da atualidade, presente em diversos equipamentos eletrónicos.
Curiosidades:
- O nome vem da palavra grega “astro”, que significa estrela, e da palavra “lip”: “aquele que procura” - seria o “buscador de estrelas”.
- O astrolábio foi inventado pelo matemático, astrónomo e geógrafo grego Hiparco de Niceia, por volta do século II a.C, considerado o “pai” da trigonometria e importantes contribuições para a astronomia. Mais tarde, o astrolábio foi aperfeiçoado por estudiosos árabes e, no século XV, Abraão Zacuto desenvolveu uma versão moderna de metal em Lisboa.
- Até à invenção da bússola era o principal instrumento utilizado para navegação na terra e no mar.
- Auxiliava a determinação das horas, função substituída pela invenção do relógio mecânico.
- O mais antigo astrolábio conhecido, datado de 1498, terá sido produzido em Portugal e utilizado na segunda viagem de Vasco da Gama à Índia. Foi encontrado no fundo do Mar Arábico, perto da costa de Omã, no navio lusitano “Esmeralda”, naufragado, e recuperado dos destroços por arqueólogos britânicos.
Astrolábio Bensaúde
AST.I.222
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