Usada num contexto de ritual de passagem à vida adulta, detentora de uma inegável beleza estética associada ao profundo significado espiritual, máscaras como esta foram criadas por hábeis artesãos que acreditavam na existência de uma especial conexão com o mundo espiritual. Através do seu uso, seria possível estabelecer ligação com os espíritos capazes de aconselhar, guiar, curar… as comunidades perante múltiplas adversidades que certamente encontrariam na sua vida.

Do conjunto de 27 objetos doados por Marie Louise Bastin, faz parte esta máscara de uso cerimonial proveniente da etnia Pende, povo que abandonou Angola, no século XVII, para se estabelecer no Kasai (atual República Democrática do Congo), e que terá sido oferecida a Marie Louise Bastin por Léon de Sousbergh.

Marie Louise Bastin nasceu em 1918, em Etterbeek (Bélgica), e faleceu no ano 2000, no Porto (Portugal). Docente, historiadora da arte e investigadora, é enquanto especialista em arte africana que assume um importante relevo. Dedica grande parte do seu trabalho ao estudo da produção cultural Cokwe, sendo uma referência internacionalmente reconhecida pelos seus pares.

Em 1948, inicia uma colaboração com o Museu Real da África Central (Tervuren, Bélgica) e, poucos anos depois, corria o ano de 1956, viaja para a região do Dundo (Angola) para estudar in loco a história e cultura dos povos Cokwe. Assim, nas décadas de 1960 a 1980, passa muito tempo no Museu do Dundo, bem como em museus europeus e americanos. As coleções portuguesas de Lisboa, Porto e Coimbra, obviamente, despertaram a sua atenção, tendo dedicado um longo período ao estudo das coleções do então Museu e Laboratório Antropológico da Universidade de Coimbra, facto que certamente em muito terá contribuído para que, em 1995, tenha tomado a decisão de doar ao Museu e Laboratório Antropológico/Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra um conjunto de 27 artefactos, hoje integrados na coleção de Antropologia do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Ora, se este legado se reveste de grande importância, não podemos deixar de referir que, juntamente com os objetos, Marie Louise Bastin decide igualmente doar à mesma instituição todo o seu arquivo pessoal e a sua biblioteca, tal como a própria refere numa carta enviada ao diretor do Museu e Laboratório Antropológico:

“Après vous légué toutes mes archives personnelles […] consernant mes recherches ethographiques et muséographiques, entreprises dès 1956 sur les arts, les coutumes et l’histoire des populations d’Angola […], j’ai l’intention de léguer à ce même Instituto de Antropologia, de l’Université de Coimbra, toute ma bibliothèque (livres spécialisés, livres d’art et revues), datant de débuts des recherches anthropologiques et esthétiques, relatives à l’Afrique noire en générale. Cette bibliothèque, - commencée en 1948, - s’est enrichie régulièrement jusqu’à nos jours […]”.

Nº de Inventário: ANT.96.1.2